
I
A disputa entre Taylor Swift, Scooter Braun e Scott Borchetta pelos direitos das gravações originais (masters) de Taylor é uma das maiores histórias da cultura pop dos últimos 10 anos — e também uma das mais mal compreendidas. Trata-se de um debate legal e moral extremamente complexo, que envolve rivalidades e dramas acumulados ao longo de mais de uma década, culminando em um embate explosivo em 2019.
Entretanto, muitas pessoas não compreendem o que realmente é o projeto “Taylor’s Version”, por que ela está fazendo isso e quem está certo ou errado nessa história. Por isso, quero explicar toda a situação, passo a passo, em formato de linha do tempo — sem tomar partido, mas relatando todos os detalhes relevantes para que você forme sua própria opinião.
A HBO lançou um documentário dividido em duas partes sobre o caso: uma abordando a versão da Taylor, e a outra focada na perspectiva de Scooter. Mas na verdade, o documentário não trouxe informações novas e aparentemente omitiu alguns detalhes cruciais.
Além disso, entrevistaram pessoas altamente tendenciosas, desde fãs radicais da Taylor até jornalistas como Rachel Brodsky, que já escreveram de forma hostil sobre ela no passado. Para tentar parecer imparciais, os criadores do documentário mencionam o fato de Scooter ser descendente de sobreviventes do Holocausto e por ter apoiado Ariana Grande após o atentado em Manchester, o que pareceu uma tentativa emocionalmente manipuladora de suavizar sua imagem e invalidar o sofrimento de Taylor.
A origem de Scott Borchetta e a fundação da Big Machine
Scott Borchetta cresceu na Califórnia e é filho de Mike Borchetta, que trabalhou na indústria musical por selos como Capitol, Mercury e RCA Records. Quando adulto, Scott também entrou para a indústria, focando no mercado country. Ele trabalhou como executivo na MCA (divisão da Universal Music), mas foi demitido em 1997. Seu trabalho envolvia a escolha de singles, e ele já tinha fama de ser controlador e autoritário. O empresário Clarence Spalding, de Nashville (que gerenciava o Rascal Flatts), chegou a dizer: “Tem dias em que eu gostaria de enforcar o Scott Borchetta.”
Pouco depois, ele conseguiu outro emprego na divisão country da DreamWorks Records, mas em 2003 o selo foi adquirido pela Universal — a mesma empresa que o havia demitido seis anos antes. Ele continuou trabalhando lá, mas estava insatisfeito e acreditava que poderia fazer melhor sozinho.
Em novembro de 2004, Scott conheceu uma Taylor Swift de 14 anos, se apresentando no Bluebird Café, em Nashville. Ficou impressionado com o talento dela e percebeu que havia uma lacuna no mercado para uma estrela country adolescente, já que o cenário era dominado por homens de meia-idade.
Ele abordou Taylor e seus pais, dizendo que planejava abrir sua própria gravadora e que gostaria de contratá-la quando o fizesse. Mas naquela época, Scott ainda não tinha capital, nem equipe, nem escritório, e nenhuma estrutura para isso.

O início do contrato de Taylor Swift
Em 2005, aos 15 anos, Taylor assinou um contrato com a RCA Records (Sony), tornando-se a artista mais jovem da gravadora até então. Mas o acordo não durou. Taylor se desiludiu com o modelo de desenvolvimento da gravadora — onde os artistas gravam músicas para testes, sem garantia de que essas canções seriam lançadas oficialmente.
Ela afirmou posteriormente que buscava uma gravadora que fosse apaixonada por ela, que estivesse realmente comprometida com seu sucesso — e não queria correr o risco de ser “engavetada” por um selo grande.
Nesse momento, Scott cumpriu sua promessa: deixou a Universal e fundou a Big Machine Records em setembro de 2005, com sede na Music Row, em Nashville. O selo começou com 13 funcionários, e Taylor foi imediatamente contratada, com um contrato de 13 anos, exigindo que ela lançasse seis álbuns durante esse período.
O contrato previa um adiantamento em dinheiro (cujo valor não é público) e, em troca, a Big Machine manteria a posse dos masters. Taylor manteria os direitos de composição das músicas. Ou seja: as melodias, letras e estruturas eram dela; as gravações, não.
Taylor receberia royalties (estimados em 10 a 15% pela Forbes), mas quem controlava e lucrava com os masters era a gravadora.
Logo no início, Scott Borchetta levantou recursos com investidores — incluindo um aporte de US$ 500 mil do pai da Taylor, Scott Swift, em troca de uma participação de 3% na empresa. O investimento foi mais uma forma de garantir controle do que de lucrar com a gravadora.
Durante o final de 2005, Taylor se dedicou ao seu álbum de estreia. Seu ex-empresário, Dan Dymtrow, afirmou que o pai da cantora já estava questionando quem seria o dono dos masters, sugerindo que a família Swift já se preocupava com isso desde o início.
O sucesso de estreia e a construção do império Big Machine
Em outubro de 2006, o primeiro álbum de Taylor foi lançado, alcançando o quinto lugar na Billboard 200. Existe um rumor de longa data de que o pai de Taylor teria comprado 100 mil cópias do álbum para impulsioná-lo nas paradas, mas não há nenhuma evidência concreta disso. A teoria parece ter começado em um comentário aleatório no Reddit e se espalhou.
Na verdade, o álbum teve uma ascensão lenta, vendendo cerca de 40 mil cópias na primeira semana — e só viria a se tornar um sucesso real com o tempo.
Scott Borchetta afirmou que, graças ao álbum de Taylor, a Big Machine nunca ficou no vermelho — ou seja, nunca operou com prejuízo. O sucesso permitiu que a gravadora contratasse novos artistas e reinvestisse em sua estrutura. Desde o início, foi Taylor quem sustentou a Big Machine.
Na música “Happiness”, Taylor descreve seu relacionamento com Scott como “sete anos no paraíso”. Há quem interprete essa linha como apenas uma metáfora, mas muitos fãs acreditam que ela se refere literalmente aos sete primeiros anos do contrato de 13 anos, ou seja, até 2012. E essa teoria parece bastante plausível.
Taylor como pilar da gravadora
Embora a Big Machine mais tarde tenha contratado artistas consagrados, Taylor Swift foi a única estrela descoberta por Borchetta. Estima-se que, nos primeiros anos, ela representava cerca de 80% da receita da gravadora.
Depois do sucesso do álbum de estreia, Taylor alcançou fama global com “Fearless” (2008), que passou 11 semanas em primeiro lugar na Billboard e foi o álbum mais vendido de 2009 nos EUA. Ela também se tornou a artista mais jovem a ganhar o Grammy de Álbum do Ano.
O sucesso continuou com Speak Now (2010), mas o ponto de virada veio com o quarto álbum, Red (2012). Foi descrito por Taylor como um “álbum mosaico”, misturando country, indie rock e bubblegum pop. Era seu ritual de passagem: da adolescência para a vida adulta, do country para o pop — e, ao que parece, também um ponto de tensão com Borchetta.
O conflito criativo em “Red”
Durante uma sessão de audição do Grammy, em 2015, Taylor disse que só teve permissão para lançar três músicas pop puras no álbum Red. Ela sugeriu que queria mergulhar mais no pop, mas foi impedida.
Ela descreveu o processo de criação assim:
“Comecei a receber as ideias do mesmo jeito de sempre, mas então elas começaram a surgir como melodias pop. E eu não lutei contra isso. Liguei para Max Martin e disse: ‘Quero combinar o que você faz com o que eu faço’. Estava com medo, mas senti que seria ótimo. Fizemos três músicas. Duas delas foram ‘I Knew You Were Trouble’ e ‘We Are Never Ever Getting Back Together’. E esse foi o máximo que me permitiram trabalhar com ele no álbum.”
Por outro lado, Scott Borchetta alegou que a mudança para o pop foi ideia dele. Ele disse que a primeira versão do Red soava country demais e que sugeriu uma produção mais pop. É impossível saber quem está dizendo a verdade, mas parece contraditório imaginar que o dono de um selo country teria incentivado essa mudança.
Taylor também disse que Borchetta pediu que ela adicionasse uma música country pura ao fim do álbum, e ela recusou.
Além disso, canções reveladas no Red Vault (faixas que ficaram de fora da edição original) como Nothing New e Forever Winter abordam temas mais maduros — e podem ter sido excluídas por não se alinharem à imagem “familiar” e “segura” que a gravadora mantinha para ela na época.
O Red Vault também trouxe a versão de 10 minutos de “All Too Well”, que ela diz não ter sido autorizada a lançar em 2012.
Esses fatos reforçam a teoria de que, ao final de 2012, os “sete anos no paraíso” haviam terminado.
Taylor se torna uma estrela pop — e Big Machine perde o controle
Após Red, Taylor ainda devia dois álbuns à Big Machine. Mas, visualmente e musicalmente, ela já não se alinhava mais à estética country.
Foi em uma madrugada, às 4 da manhã, que Taylor decidiu que seu próximo álbum se chamaria 1989, uma homenagem ao ano de seu nascimento e à sonoridade synthpop dos anos 1980.
Ela declarou:
“Vou chamá-lo de um álbum pop. Não vou ouvir ninguém da minha gravadora. Vou começar amanhã.”
O álbum foi lançado em outubro de 2014 e marcou sua ruptura definitiva com o country.
Embora ainda estivesse contratualmente presa à Big Machine, Taylor passou a tomar todas as decisões estratégicas da era “1989” — desde branding até videoclipes. Um executivo da gravadora chegou a dizer que ela geriu tudo sozinha, liberando a equipe para focar em outros artistas.
A era terminou de forma simbólica quando, em 2016, Taylor venceu o Grammy de Álbum do Ano pela segunda vez — com um disco que a gravadora não queria que ela fizesse.
As tentativas de Taylor para recuperar seus masters — e a virada em 2016
Taylor afirmou que, durante os 13 anos de contrato com a Big Machine, tentou várias vezes negociar a compra dos seus masters. Ela não especificou exatamente quando começaram essas conversas, mas com base na sua independência criativa durante a era 1989, é plausível supor que essas tentativas tenham começado já nesse período — ou até antes.
Enquanto isso, em 2016, o clima ao redor de Taylor Swift ficou muito mais tenso.
Kanye West, “Famous” e a origem da rixa com Scooter Braun
Em abril de 2016, Scooter Braun passou a ser o empresário de Kanye West. Poucos meses depois, Kanye lançou o clipe de “Famous”, com a infame frase:
“Sinto que eu e a Taylor ainda vamos transar. Por que eu fiz aquela vadia ficar famosa.”
O vídeo trazia uma réplica de cera de Taylor, nua, deitada ao lado de Kanye e outras celebridades, o que mais tarde seria considerado uma violação de consentimento e comparado a pornografia de vingança.
Taylor condenou publicamente o vídeo e a letra. Logo depois, Kim Kardashian divulgou uma gravação editada de uma ligação com Taylor, fazendo parecer que ela havia consentido com a música — o que gerou uma onda de ataques contra Taylor nas redes sociais.
Na época, Justin Bieber postou um print de uma chamada de vídeo com Kanye e Scooter, escrevendo:
“Taylor Swift, o que você tem a dizer?”
Taylor mais tarde declarou que isso foi uma forma de bullying por parte de Scooter Braun, num momento em que ela estava emocionalmente fragilizada. Esse episódio é citado por ela como a origem do ressentimento profundo contra Scooter.
Reputation e o fim do contrato com a Big Machine
Em 2017, Taylor lançou o álbum Reputation — o último dentro do contrato original com a Big Machine. A vigência oficial do contrato, porém, só expirava em novembro de 2018.
Durante esse período, houve intensas negociações entre Taylor e Scott Borchetta, que queria convencê-la a renovar com o selo. As propostas estavam carregadas de impasses.
Segundo documentos vazados, Taylor exigia:
- Controle total sobre o licenciamento da sua música, distribuição e marketing;
- A posse dos seus masters anteriores.
Scott, por sua vez, queria:
- Um novo contrato de 10 anos (Taylor queria 7);
- Impedir Taylor de regravar seu catálogo anterior caso saísse da Big Machine.
Taylor afirmou que a única proposta concreta que recebeu envolvia um modelo no qual, a cada novo álbum lançado, ela recuperaria os masters de um álbum anterior — ou seja, para ter os direitos dos seis álbuns lançados, precisaria gravar mais seis sob contrato com a Big Machine.
Esse modelo só faria sentido para Taylor se ela acreditasse que seu auge já havia passado — e que os próximos álbuns venderiam menos do que os anteriores. Como ela acreditava em seu potencial, optou por sair.
Taylor assina com a Republic Records e rompe com o passado
Em novembro de 2018, Taylor assinou com a Republic Records, num contrato descrito como um dos mais “amigáveis ao artista” da história da música. Ela passou a ser dona de todos os seus futuros masters, enquanto a gravadora lucraria principalmente com a venda de produtos e merchandising.
Em mensagens de texto trocadas com Scott Borchetta (mais tarde vazadas), Taylor disse:
“Tive uma escolha entre apostar no meu passado ou apostar no meu futuro. E, conhecendo quem eu sou, você já sabe qual eu escolhi.”
Ela agradeceu pelo que haviam construído juntos e disse querer continuar amiga. Publicamente, também postou uma nota elogiando Scott pela parceria de mais de uma década. Scott respondeu com uma citação da música Long Live:
“Passei o melhor momento da minha vida lutando contra dragões com você.”
Mas essa paz durou pouco.
Scooter Braun compra a Big Machine e os masters de Taylor
Na noite de 29 de junho de 2019, às 21h05, Scott Borchetta enviou uma mensagem para Taylor avisando que no dia seguinte seria anunciado que a Big Machine seria vendida para Scooter Braun e sua empresa Ithaca Holdings.
A venda foi noticiada em 30 de junho, às 10h da manhã. O negócio foi avaliado em aproximadamente US$ 300 milhões, incluindo os masters dos seis primeiros álbuns de Taylor.
Com isso:
- Scott Borchetta lucrou cerca de US$ 180 milhões, segundo a Billboard;
- Scott Swift, pai de Taylor e acionista da gravadora, teria recebido cerca de US$ 15 milhões;
- Scooter Braun repostou uma história no Instagram com a frase: “Quando seu amigo compra a Taylor Swift.”
Pouco depois, Taylor curtiu várias postagens no Tumblr que denunciavam o machismo de “comprar” uma mulher como se ela fosse um produto.
No mesmo dia, Taylor publicou uma longa carta no Tumblr, afirmando que:
“Pedi durante anos uma chance de comprar meu próprio trabalho. Em vez disso, me ofereceram uma proposta em que ganharia um álbum antigo para cada novo álbum que entregasse. Deixei meus masters nas mãos de Scott, já sabendo que ele os venderia. Mas nunca imaginei que o comprador seria Scooter Braun.”
Ela também disse:
“Todas as vezes que mencionei o nome de Scooter a Scott, eu estava chorando ou tentando não chorar. Ele sabia. Ambos sabiam. Controlar uma mulher que não quer estar associada a vocês — para sempre.”
A resposta de Scott Borchetta e a guerra de versões
No mesmo dia em que Taylor publicou sua carta no Tumblr, Scott Borchetta respondeu com uma nota no site da Big Machine, divulgando documentos das negociações de 2018. Ele rebateu dois pontos principais:
- Que Taylor não teria sido avisada sobre a venda — segundo ele, todos os acionistas foram notificados;
- Que Taylor não teve oportunidade de comprar seus masters — segundo ele, ela teve sim essa chance ao negociar o novo contrato.
Ele também alegou que o pai de Taylor, Scott Swift, estava entre os acionistas informados sobre a venda em uma chamada no dia 25 de junho (cinco dias antes do anúncio público), e que todos os acionistas tiveram três dias para analisar os termos da transação. Taylor, segundo ele, teria sido avisada 12 horas antes, por mensagem de texto.
Além disso, Borchetta argumentou que a proposta oferecida a Taylor era inovadora, adaptada ao novo cenário do streaming, e que ela teria acesso imediato a todos os seus masters se tivesse assinado novamente com a gravadora.
A versão da equipe de Taylor e as divergências com Borchetta
A equipe de Taylor, por sua vez, divulgou uma declaração à revista People, dizendo que:
- Scott Swift não fazia parte do conselho da Big Machine;
- Ele não participou da chamada de acionistas por estar preso a um acordo de confidencialidade (NDA) que o impediria de avisar a própria filha sobre a transação;
- Taylor teria descoberto a venda pela imprensa, ao acordar em Londres e ver a notícia online — antes mesmo de ler a mensagem enviada por Borchetta.
Em entrevista ao CBS Sunday Morning, Taylor reforçou que:
“Descobri quando vi online. Nenhuma pessoa do meu círculo sabia. Ninguém me contou. Eu sabia que Scott venderia minha música. Só não acreditei para quem ele venderia.”
Essa divergência entre as versões é um dos pontos mais debatidos. É possível que ambos estejam dizendo a verdade em partes: Scott de fato mandou uma mensagem, mas Taylor só a viu depois de já ter lido a notícia. Porém, a forma como ela descreveu a situação — dizendo que “soube com o mundo todo” — sugere que ninguém a avisou diretamente, o que causou polêmica e foi considerado por muitos como um exagero retórico motivado pela emoção do momento.
Por que Taylor não comprou os masters diretamente de Scooter?
Em outubro de 2020, foi noticiado que Scooter Braun havia vendido os masters de Taylor para a Shamrock Capital por cerca de US$ 300 milhões. Antes disso, segundo reportagens, ele teria oferecido à cantora a chance de comprá-los por US$ 35 milhões — um “desconto” de US$ 100 milhões.
Essa teria sido a primeira vez que Taylor teve a chance de comprar os masters diretamente por dinheiro, sem precisar assinar um novo contrato.
Ela recusou.
Motivo? Segundo Taylor, o contrato previa que Scooter Braun continuaria lucrando com os masters mesmo após a venda — e ela não queria que ele ganhasse um centavo a mais com seu trabalho.
Ela escreveu um e-mail à Shamrock Capital, depois tornado público, dizendo:
“Fiquei empolgada com a ideia de trabalhar com pessoas que valorizam a arte e entendem o significado da minha obra. Por isso fiquei tão desapontada ao saber que, pelos termos da aquisição, Scooter Braun continuaria recebendo lucros durante anos a partir da minha música, videoclipes e imagens.”
Taylor então anunciou que regravaria todos os seus seis primeiros álbuns, dizendo que isso desvalorizaria os masters originais, mas era um sacrifício necessário para retomar o controle sobre sua obra.
O nascimento do projeto “Taylor’s Version”
Em novembro de 2020, Taylor começou a regravar seus álbuns. O primeiro, Fearless (Taylor’s Version), foi lançado em 2021 com grande sucesso — seguido por Red (TV), Speak Now (TV) e 1989 (TV).
Essas regravações:
- Recuperaram o controle artístico de Taylor sobre seu catálogo;
- Foram amplamente apoiadas pelo público e plataformas de streaming;
- Tornaram-se um modelo para outros artistas que desejam recuperar seus direitos sobre obras anteriores.
Ao substituir as versões antigas pelas novas, Taylor criou uma alternativa legítima e rentável, esvaziando o valor dos masters que estavam sob controle de terceiros — sem precisar de confrontos legais, apenas com sua base de fãs e inteligência de mercado.
Tentativas de impedir Taylor de performar suas músicas antigas
Em novembro de 2019, Taylor anunciou que seria homenageada como “Artista da Década” no American Music Awards (AMAs), e que planejava apresentar um medley de seus maiores sucessos. Poucos dias antes do evento, ela publicou um texto nas redes sociais dizendo que Scott Borchetta e Scooter Braun estavam impedindo a apresentação das músicas antigas, alegando que isso violaria a cláusula de regravação contratual.
Taylor afirmou:
“Planejo apresentar um medley dos meus sucessos nos AMAs. Scott Borchetta e Scooter Braun disseram que não posso fazer isso porque seria uma regravação antes do permitido. A Netflix também está produzindo um documentário sobre minha vida e, novamente, eles recusaram liberar o uso de minhas músicas ou imagens de performances antigas. O recado é claro: seja uma boa garota e cale a boca — ou será punida.”
Essa denúncia teve enorme repercussão, e a opinião pública passou rapidamente a favor de Taylor. A postura dos empresários foi vista como autoritária e desproporcional.
A resposta de Borchetta e a tréplica de Taylor
No dia seguinte, Scott Borchetta emitiu um comunicado afirmando que Taylor estava distorcendo os fatos:
“Ficamos chocados ao ver suas declarações no Tumblr. Nunca dissemos que ela não poderia se apresentar nos AMAs ou bloquear a produção do documentário da Netflix. Não temos esse poder. Taylor, essa narrativa não existe. Tudo o que pedimos é uma conversa direta e honesta.”
A publicista de Taylor, Tree Paine, respondeu com provas documentais: ela publicou um e-mail da Big Machine, datado de 28 de outubro de 2019, afirmando claramente que não autorizariam o uso das gravações originais nem liberariam as restrições de regravação para os dois projetos: o documentário da Netflix e uma apresentação para o Alibaba 11:11 (evento na China).
Paine ressaltou que a gravadora não havia negado a acusação de Taylor — apenas havia tentado desviá-la, sugerindo que ela estava “inventando”. A resposta da Big Machine falava apenas de “apresentações ao vivo”, mas o problema estava nas transmissões televisivas e licenciamento.
Scooter Braun fala publicamente — e apela por diálogo
Scooter Braun publicou uma longa carta aberta no Instagram, dizendo que ele e sua família estavam recebendo ameaças de morte desde que Taylor expôs a situação.
Ele escreveu:
“Desde sua declaração pública, temos recebido inúmeras ameaças de morte. Seu advogado foi notificado disso há quatro dias, mas você permaneceu em silêncio. Ainda assim, tenho esperança de que possamos resolver isso. Tudo o que tentei fazer foi consertar essa situação. Meus esforços para dialogar foram rejeitados. Me disseram que isso não é sobre verdade ou resolução, mas sobre manter uma narrativa conveniente para você.”
Scooter alegou que tentou conversar por seis meses, por meio de advogados, amigos em comum e intermediários, mas nunca obteve retorno. Ele ainda afirmou que nunca disse que ela não poderia cantar suas músicas — e que ela poderia se apresentar no AMAs sem restrições.
O silêncio de Taylor — e o debate sobre responsabilidade dos fãs
Alguns críticos sugeriram que Taylor deveria ter feito um apelo direto aos fãs para que não ameaçassem Scooter Braun e sua família, já que ela havia encerrado sua denúncia com um chamado público:
“Por favor, deixem Scooter Braun e Scott Borchetta saberem como vocês se sentem.”
Isso foi interpretado como uma autorização tácita para o linchamento virtual — algo que até hoje gera discussão sobre o papel dos artistas no controle do comportamento de seus fãs. Ainda assim, a maior parte da opinião pública ficou do lado de Taylor, que ganhou ainda mais apoio após sua fala como “Mulher da Década” da Billboard, em dezembro de 2019.
Ela reafirmou:
“A indústria da música está cheia de homens decidindo o destino das mulheres sem sequer consultar suas vontades. Estou cansada disso.”
A guerra nos bastidores: e-mails vazados e o contrato de silêncio
Durante o verão de 2020, houve menos drama público, mas os bastidores estavam em ebulição. Vieram à tona e-mails trocados entre a equipe de Taylor e representantes da Ithaca Holdings, empresa de Scooter.
Segundo os e-mails:
- Scooter estaria pressionando por um acordo de confidencialidade (NDA);
- O documento permitiria que Taylor continuasse criticando Scooter publicamente, mas proibia que ela mencionasse as negociações entre eles, sob risco de processo.
O empresário de Taylor, J. Schaudies, respondeu dizendo que o contrato ainda parecia uma forma de silenciar a cantora, já que qualquer crítica às negociações poderia ser interpretada como violação do NDA.
Com o impasse, Scooter teria desistido de negociar diretamente com Taylor e decidido vender os masters para a Shamrock Capital — mas manteve uma cláusula no contrato que lhe garante parte dos lucros futuros, o que motivou Taylor a romper completamente qualquer possibilidade de colaboração.
aylor recusa proposta final e inicia o projeto Taylor’s Version
Com a venda dos masters para a Shamrock Capital em outubro de 2020, Scooter Braun teria oferecido a Taylor uma última chance de comprá-los diretamente, com um desconto de US$ 100 milhões, totalizando US$ 35 milhões. Essa teria sido a primeira vez que ela poderia adquirir os masters por dinheiro, sem renovar contrato ou fazer concessões adicionais.
Taylor recusou.
Segundo sua declaração, mesmo que ela fosse a dona “legal”, Scooter continuaria lucrando com a propriedade intelectual de suas músicas, videoclipes e capas de álbum. Ela disse que não poderia compactuar com isso, pois seu objetivo era romper completamente com Braun e o passado da Big Machine.
Em seu e-mail à Shamrock, tornado público, Taylor escreveu:
“Estava empolgada com a ideia de trabalhar com pessoas que valorizam a arte e compreendem o valor da minha obra. Por isso, fiquei profundamente desapontada ao saber que Scooter Braun e a Ithaca Holdings continuariam recebendo lucros substanciais pelos próximos anos.”
Ela finaliza dizendo que regravaria todos os álbuns, ciente de que isso desvalorizaria os masters originais, mas acreditava ser um sacrifício necessário para recuperar sua autonomia artística.
O impacto das regravações — Taylor vence na prática e na narrativa
A partir de 2021, Taylor começou a lançar suas regravações sob o selo Taylor’s Version, começando por Fearless, seguida de Red, Speak Now e 1989. Os lançamentos foram:
- Sucessos absolutos de vendas e streaming, superando até as versões originais;
- Amparados por campanhas massivas dos fãs, da mídia e das plataformas;
- Aclamados por devolver o controle da obra à artista — e também por incluir faixas inéditas do “cofre”, aumentando o valor artístico dos álbuns.
Além disso, a iniciativa gerou um movimento maior na indústria musical, levando outros artistas (como JoJo e Demi Lovato) a regravarem seus próprios catálogos e repensarem seus contratos.
Taylor mostrou que, mesmo perdendo os masters, podia vencer com estratégia, talento e engajamento, sem depender de intermediários.
As contradições, lacunas e zonas cinzentas da história
Apesar de tudo, é possível reconhecer que há incoerências e omissões dos dois lados.
Por exemplo:
- Taylor disse ter descoberto sobre a venda para Scooter pela mídia, mas Borchetta enviou uma mensagem 12 horas antes, ainda que em cima da hora;
- A equipe de Taylor criticou Scott por não ligar, mas ela também nunca ligou pessoalmente para dizer que não renovaria o contrato;
- Scooter e Scott alegaram que ela teve chance de comprar os masters, mas essa oportunidade sempre envolvia renovar com a gravadora — algo que Taylor não queria fazer.
Além disso, Scooter Braun sempre foi o “vilão” mais destacado por Taylor, embora muitos apontem que Scott Borchetta foi quem a conhecia desde os 14 anos — e mesmo assim vendeu suas gravações para uma pessoa que ela havia descrito como abusiva.
Essa parte da história nunca foi totalmente explicada: Taylor diz que chorou para Scott várias vezes por causa de Scooter, e mesmo assim ele vendeu os álbuns para ele. Por quê?
Há quem acredite que haja algo mais profundo na animosidade entre Taylor e Scooter — talvez algo que nunca veio a público.
Uma batalha vencida com estratégia e resiliência
Independentemente de quem você acredita estar certo, uma coisa é clara: Taylor Swift venceu essa batalha no tribunal da opinião pública, no mercado e na cultura.
Ela pegou uma situação desfavorável, transformou em uma campanha estratégica e criativa, reconstruiu sua discografia sob seus próprios termos e ainda influenciou positivamente a carreira de outros artistas.
Na letra de “It’s Time to Go”, lançada em 2021, ela sintetiza o sentimento da luta:
“15 anos, 15 milhões de lágrimas, implorando até meus joelhos sangrarem.
Dei tudo de mim.
Ele não me deu nada.
E depois se perguntou por que fui embora.
Agora ele se senta em seu trono,
No seu palácio de ossos.
Orando à sua ganância,
Enquanto meu passado está congelado atrás de vidro.”
Taylor’s Version: o que ainda falta?
Até maio de 2025, Taylor Swift já lançou quatro das seis regravações prometidas de sua era Big Machine:
- Fearless (Taylor’s Version) — abril de 2021
- Red (Taylor’s Version) — novembro de 2021
- Speak Now (Taylor’s Version) — julho de 2023
- 1989 (Taylor’s Version) — outubro de 2023
Faltam agora apenas:
- Reputation (Taylor’s Version)
- Taylor Swift (Taylor’s Version) — também chamado pelos fãs de Debut (TV)
Reputation (Taylor’s Version): por que ainda não foi lançado?
O contrato original da Big Machine proibia Taylor de regravar seus álbuns antes de cinco anos da data de lançamento original. Como Reputation foi lançado em 10 de novembro de 2017, a regravação só pôde ser legalmente iniciada após novembro de 2022.
Apesar disso, Taylor ainda não anunciou oficialmente a data de lançamento, embora:
- Vários rumores indiquem que a regravação já está pronta desde 2023, mas que ela optou por atrasar por motivos estratégicos;
- Há indícios visuais e sonoros de que ela já está trabalhando na divulgação — fãs identificaram o uso de faixas regravadas de Reputation em anúncios, documentários e trilhas promocionais;
- Na The Eras Tour, ela já apresentou versões ao vivo atualizadas de músicas como “Delicate”, “…Ready for It?” e “Look What You Made Me Do”, com arranjos diferentes.
Uma teoria recorrente é que Reputation (TV) será lançado logo após o encerramento da The Eras Tour, em novembro de 2025, como forma de encerrar a era Taylor’s Version com impacto.
Taylor Swift (Debut) (Taylor’s Version): o álbum que começou tudo
O álbum autointitulado de estreia, lançado em 2006, é o que falta para completar o ciclo da regravação total. Por ser o mais country dos seis, ele representa o começo simbólico e literal da jornada artística de Taylor.
Embora muitos fãs o consideram o menos popular entre os álbuns da Big Machine, seu valor:
- Está fortemente ligado à memória afetiva dos fãs de longa data;
Tem músicas icônicas como “Tim McGraw”, “Teardrops on My Guitar”, “Our Song” e “Should’ve Said No”; - Poderá ser repaginado com vocais mais maduros e produções refinadas, elevando o apelo das canções.
Alguns boatos sugerem que Debut (TV) poderá ser lançado simultaneamente ou logo após Reputation (TV), formando um encerramento duplo e conceitual da saga de regravações.
Regravar = reconquistar o controle
Com cada novo lançamento da série Taylor’s Version, Swift desvaloriza o catálogo antigo de forma ética e estratégica, transferindo o consumo para as novas versões e cortando o lucro de quem detém os masters anteriores.
Além disso, Taylor:
- Estabeleceu precedente para artistas de gerações futuras renegociarem seus contratos com mais consciência e propriedade;
- Tornou o debate sobre autoria, controle criativo e propriedade intelectual um tema global — inclusive debatido em faculdades de Direito e Business;
- Construiu uma narrativa coesa, simbólica e financeiramente inteligente.
O legado de Taylor’s Version
Ao fim desta complexa jornada, percebe-se que ambos os lados têm narrativas incompletas ou contraditórias. Taylor, apesar de ter dramatizado alguns aspectos para reforçar sua posição pública, conseguiu transformar uma derrota contratual em uma vitória histórica. Scott Borchetta e Scooter Braun, por outro lado, mantêm suas versões, alegando sempre terem oferecido alternativas viáveis.
Contudo, é inegável que Taylor Swift venceu moralmente e financeiramente essa batalha, transformando sua experiência negativa em um dos maiores cases de sucesso artístico e empresarial da música contemporânea.
Independentemente da narrativa escolhida, a luta de Taylor Swift pelos seus masters redefiniu a relação entre artistas e gravadoras. O projeto “Taylor’s Version” é mais do que um movimento artístico – é uma reivindicação de autonomia criativa e financeira, que já mudou o modo como músicos lidam com seus próprios direitos.
E talvez o maior legado seja justamente este: ensinar às futuras gerações de artistas a importância de protegerem suas obras desde o início, nunca abrindo mão do controle sobre o que criam.
Mesmo após o fim da série de regravações, o projeto Taylor’s Version será lembrado como:
- Uma resposta criativa e comercialmente bem-sucedida a uma injustiça contratual;
- Um ato político e artístico de recuperação de identidade profissional;
- Uma lição para a indústria fonográfica sobre o poder do artista na era digital.
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