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MC Karlos: “O Rock Morreu (Graças a Deus)” — Um grito satírico para o Brasil

Do punk hardcore ao rap minimalista, artista critica o conservadorismo musical e aponta a necessidade de uma nova era no rock brasileiro.

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MC Karlos: “O Rock Morreu (Graças a Deus)” — Um grito satírico para o Brasil
MC Karlos trocou os riffs pelos beats e lança crítica afiada à nostalgia conservadora do rock. Imagem: Divulgação | Edição: Agência CSP

O título do novo single do projeto MC Karlos é uma provocação em forma de manifesto: “O Rock Morreu (Graças a Deus)”. Com ironia e beats inspirados no Miami Bass dos anos 1990, o artista — que antes dedicou duas décadas ao punk rock e ao hardcore — agora veste o boné do rap minimalista para questionar o apego nostálgico, o elitismo cultural e a perda de relevância do rock como expressão jovem no Brasil atual.

Da guitarra ao beat: a origem do MC Karlos

Baixista da banda de hardcore “Xupakabras” desde 2007, MC Karlos nasceu da inquietação criativa de um roqueiro que desejava experimentar novas linguagens.

“Minha formação musical sempre foi no rock, principalmente no punk e hardcore. Mas o MC Karlos surgiu da vontade de explorar outros sons, como o rap, o funk, o Miami Bass”, explica.

Inspirado por artistas como Dee Dee King (alter ego rapper de Dee Dee Ramone) e os Beastie Boys, o projeto aposta em uma estética lo-fi, com batidas sujas, guitarra distorcida e letras ácidas. “O processo solo me permitiu compor de outra forma, com mais liberdade e individualidade. É quase como escrever um diário com beat.”

MC Karlos trocou os riffs pelos beats e lança crítica afiada à nostalgia conservadora do rock. Imagem: Divulgação | Edição: Agência CSP

“O Rock Morreu”: entre a sátira e a crítica

Apesar do tom cômico, a faixa não é apenas uma piada interna. MC Karlos usa o humor para criticar o estereótipo do “roqueiro conservador”, aquele que só valoriza bandas clássicas, despreza a música brasileira e ignora a cena underground local.

“A crítica vai para esse cara que idolatra cover de Iron Maiden, mas não cola nos rolês das bandas independentes. Que vê o rock como algo superior, mas vive no passado”, comenta.

Ao mesmo tempo, o artista reconhece que há um fundo de verdade na provocação. “Claro que existem bandas boas ainda. Mas o estilo perdeu sua relevância para as massas, principalmente entre o público jovem.”

O estado do rock no Brasil em 2025

Com olhar clínico, MC Karlos divide sua análise entre o underground — onde ainda há vida criativa pulsando — e o mainstream, que, segundo ele, abandonou o gênero.

“Tem muita coisa boa acontecendo, como o Black Pantera, que mistura rock, rap e música brasileira com potência política e estética. Mas no mainstream? Não lembro da última banda de rock que fez sucesso com os jovens”, confessa.

Ele atribui esse esvaziamento à “cultura do revival”, que, em vez de renovar o estilo, o transforma em repetição nostálgica. “Muita cover, muito saudosismo. O jovem vê o rock como algo ultrapassado.”

Ainda precisamos do rock?

Para MC Karlos, o rock não é mais “necessário” como forma de transgressão — mas isso não significa que a rebeldia morreu.

“O rock é só um meio, como qualquer outro. Se não for por ele, vai ser pelo rap, pelo funk, pelo trap… ou por outras formas de arte, como o grafite. O importante é a mensagem, a expressão.”, explica.

Ele não lamenta o possível fim do gênero. “Tudo é processo. As coisas mudam. O rock ainda existe, mas está em decadência. E pode ser que um dia desapareça por completo — e tá tudo bem.”

Um novo grito vindo do interior

O que torna MC Karlos tão provocador é sua capacidade de rir enquanto aponta o dedo. Longe das grandes capitais, com um discurso direto e uma estética crua, ele apresenta uma nova versão de um artista brasileiro que transita entre gêneros, critica os mitos da indústria e segue criando — com ou sem guitarra.

“O rock morreu” não é apenas um deboche: é um chamado para repensar a maneira como consumimos música, como nos relacionamos com o passado e como reconhecemos as revoluções culturais do presente.

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