Em meio a todas as polêmicas envolvendo o lançamento do seu novo álbum “Cowboy Carter“, o segundo de três atos do projeto Renaissance, Beyoncé já vinha se posicionando na música country muito antes do anúncio do álbum. No ano de 2016, com o álbum “Lemonade” e uma apresentação no CMA Awards, Beyoncé ficou conhecida como “A polêmica performance de Beyoncé com o trio Dixie Chicks“.
Essa performance, por mais importante que seja para os negros americanos, uma vez que a maior diva preta da música estadunidense estava se apresentando na premiação mais importante do estilo musical mais ‘patriótico’ dos norte-americanos, apenas a presença de Beyoncé e das cantoras Emily Robison, Martie Maguire e Natalie Maines componentes do trio Dixie Chicks, foi repleta de polêmicas causadas apenas pela presença de uma mulher preta e três mulheres brancas que, em 2003, se posicionaram contra atitudes do ex-presidente George W. Bush.
Para entender melhor os acontecimentos dessa apresentação, vamos voltar no tempo para compreender melhor a indústria da música country e o que de fato gerou o cancelamento das Dixie Chicks, tendo como cereja do bolo a presença de Beyoncé reivindicando suas origens no country.
Antes de Beyoncé lançar o aclamado álbum “Lemonade“, da criticada apresentação da canção “Formation” no Super Bowl de 2016, onde a cantora se posiciona politicamente contra a violência policial, três mulheres brancas de enorme sucesso na música country criticaram as decisões do ex-presidente George W. Bush.
Com poucas palavras, as Dixie Chicks foram de queridinhas da música country à persona non grata dos estadunidenses mais apegados às origens do gênero, considerado um patrimônio para muitos norte-americanos.
A música country é para muitos estadunidenses o mesmo que a música sertaneja é para grande parte dos brasileiros: um símbolo da diversidade musical da cultura de seus países, e assim como no Brasil, mulheres durante muitas décadas foram a minoria na indústria.
Ainda no início dos anos 2000, o trio de cantoras do country chamadas Dixie Chicks faziam muito sucesso e eram extremamente respeitadas pela comunidade da música country.
Entretanto, tudo isso mudou quando em 2003, durante um show em Londres, a integrante Natalie Maines fez uma crítica ao então presidente George W. Bush.
“Só para vocês saberem, estamos do lado do bem, como vocês”, disse ela. “Não queremos esta guerra, esta violência, e temos vergonha de o presidente dos Estados Unidos ser do Texas.”
O gênero country e uma grande parte dos artistas da música country são majoritariamente conservadores e se envolvem muito com a questão da política norte-americana e acima de tudo são declaradamente patriotas. A comunidade ficou chocada com o fato delas estarem falando mal do atual presidente e assim elas foram canceladas.
Com toda essa polêmica e todas as críticas que elas estavam sofrendo, elas lançaram uma nota dizendo:
“Sinto que o presidente está ignorando as opiniões de muitos americanos e alienando o resto do mundo enquanto a gente apoia nossas tropas, não há nada mais ameaçador do que uma nação indo para uma guerra com o Iraque com a chance de perdermos tantas vidas inocentes.”
E assim, as Dixie Chicks foram meio que canceladas no mundo country e suas músicas consequentemente foram barradas nas rádios e programas de TV.
Ao final de 2003, as cantoras foram as estrelas da icônica capa da revista Entertainment Weekly, onde apareciam nuas, e em seus corpos diversas palavras como: boicote, traidoras, corajosas, heróis e bocudas.
Na entrevista, a integrante Natalie Maines disse que atualmente se arrependia das palavras que usou, mas que a opinião dela ainda permanecia a mesma. Ela gostaria de ter usado outras palavras e não ter dito que ‘sentia vergonha do presidente do país dela‘.
Sendo assim, todo esse background de informações já seria o suficiente para criar toda uma polêmica em torno da apresentação, mas ainda precisamos entender quais as ligações de Beyoncé com a música country e como ela foi parar no palco do Country Music Awards.
Em 2016, Beyoncé havia lançado o seu álbum mais pessoal com relação a sua visão sobre o racismo e igualdade racial. Naquele momento o prestigiado álbum ‘Lemonade’ estava com a divulgação a todo vapor.
A começar pela apresentação de estreia do primeiro single do álbum, a faixa ‘Formation’ junto a banda Coldplay e o cantor Bruno Mars no show do intervalo do Super Bowl 2016, onde todo o figurino, coreografias e efeitos pirotécnicos remeteram – para o pavor dos racistas estadunidenses – ao movimento Pantera Negra.
No mesmo álbum, a cantora colocou a história na mesa e lançou uma faixa completamente country, e neste ponto é muito válido mencionar que a música country tem características bem específicas como o uso de instrumentos de corda, as letras sempre contam histórias de amor, sobre superação, nostalgias das memórias da juventude e das experiências da vida.
E a canção ‘Daddy Leason’ incorpora todos os elemento, e para além do fato de Beyoncé ser uma mulher preta e a música country ter raizes profundas na cultura e na sonoridade levada para a américa do norte pelo negros escravizados.
Bom, ninguém melhor para Beyoncé chamar para essa performance se não aquelas 3 mulheres que foram canceladas pela comunidade delas por terem se posicionado politicamente e como Beyoncé estava se posicionando naquele momento com seu disco ‘Lemonade’ e também estava sofrendo com um certo boicote tanto pela polícia Americana quanto por pessoas mais conservadoras dos EUA.
Marketeira ou justiceira, seja lá como queiram chamar, mas o fato é que ela pensou cuidadosamente nas pessoas que convidou para se apresentar com ela.
Entretanto, durante a apresentação ficou visível o descontentamento de algumas pessoas na plateia do Country Music Awards. Era perceptível que não estavam muito satisfeitos com aquela performance.
Alguns fãs de música country expressaram descontentamento nas redes sociais, argumentando que a presença de Beyoncé não era apropriada em um evento dedicado à música country, já que ela é conhecida principalmente por seu trabalho no R&B e no pop.
Por outro lado, milhões de fãs e críticos ao redor do mundo também levantaram diversos pontos sobre questões raciais, sugerindo que a reação negativa à performance poderia ter sido motivada, em parte, pelo fato de Beyoncé ser negra, no entanto, outros defenderam a inclusão de Beyoncé no evento, elogiando a diversidade musical que ela trouxe para a cerimônia.
Em uma entrevista concedida em 2016, as Dixies Chicks falaram que foram destratadas nos bastidores da premiação. Assim como a performance de “Daddy Lessons”, os vídeos de todas as outras atrações daquela noite foram disponibilizados no canal do CMA Awards, mas não demorou muito para que diversos comentários negativos, e muitos sendo até racistas e misóginos.
Os comentários mais leves diziam coisas como: “Não tenho certeza se eu quero assistir isso, o que é que ela está fazendo lá?” e juntando uma polêmica com a outra, um comentário ainda dizia: “Aquela que odeia policiais, não, obrigada.”
Seja pelos haters ou pela repercussão negativa sobre a apresentação, os administradores do canal oficial do CMA Awards removeram o vídeo.
E como na internet pouca polêmica não basta, uma onda de críticas sobre a remoção do vídeo começou e logo em um comunicado enviado à imprensa, os responsáveis disseram que apagaram o vídeo não pela onda de comentários, mas porque a própria equipe de Beyoncé solicitou a retirada do vídeo uma vez que Beyoncé não aprovou que ele fosse disponibilizado no canal deles.
E é válido lembrar que Beyoncé é uma das poucas artistas da música que possui os direitos de todas as suas apresentações na televisão.
*Todas as fontes para elaboração deste conteúdo estão em hiperlinks inseridos no texto.
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