Por: Ana Carolina Haddad
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Via: Brasil de Fato
A participante Domitila Barros, da edição deste ano do reality show Big Brother Brasil, contou aos colegas de confinamento a origem do nome dela. Os pais da sister se inspiraram em Domitila Barrios Chungara, uma líder operária boliviana que lutou contra ditaduras militares do país nos anos 1970 e 1980. Em meio a paredões e reta final do programa brasileiro, conheça um pouco da bonita história dessa heroína que lutou pelos mais vulneráveis no país vizinho.
Domitila Barrios Chungara (1937 – 2012) foi uma mulher de descendência indígena, nascida na Bolívia, em Llallagua, que fica em uma área de mineração estatal. O pai era minerador, assim como o esposo, com quem viria a ter 11 gestações e, dessas, sete filhos.
Em uma época em que as mulheres bolivianas não tinham direito culturalmente à escolaridade ou mesmo a opinar, Domitila se envolveu com a organização dos trabalhadores da Mina Siglo 20, de extração de estanho.
A boliviana foi uma das fundadoras do Comité de Amas de Casa (Comitê das Donas de Casa). A organização protagonizou uma série de ações populares ao denunciar as condições miseráveis em que os trabalhadores das minas viviam. Tudo isso levaria, sem que Domitila planejasse, a uma ascensão internacional como liderança boliviana ao lutar pelo povo e contra o imperialismo.
Domitila participou do documentário A Dupla Jornada (1975), da cineasta brasileira Helena Solberg. O longa-metragem conta a história de mulheres trabalhadoras em fábricas e em minas na América Latina.
Solberg também convidou Domitila para a I Conferência Mundial da Mulher, no México, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Durante o evento, a boliviana se destacou ao desafiar o ambiente que estava ocupado majoritariamente por mulheres brancas e acadêmicas.
O testemunho Si me permiten hablar…” (“Se me Deixam Falar” – Testemunho de Domitila, uma Mulher das Minas da Bolívia) virou livro traduzido para 15 idiomas no mundo, com auxílio da educadora brasileira Moema Viezzer, que a entrevistou depois do episódio.
Heroína contra as ditaduras
Domitila Barrios Chungara é considerada uma das grandes heroínas da luta contra as ditaduras bolivianas. A trabalhadora foi uma das responsáveis pelo enfraquecimento que acabou por derrubar o general Hugo Banzer que governava a Bolívia em uma ditadura militar (1971-1978). Barrios e mais quatro companheiras – Angélica Flores, Aurora de Lora, Luzmila de Pimentel, Nelly de Panigua – iniciaram uma greve de fome numa das praças principais da capital, La Paz.
Durante 21 dias, elas passaram de cinco mulheres para 1.300 bolivianas e bolivianos, entre estudantes universitários, jornalistas e o padre jesuíta Luís Espnial, assassinado anos mais tarde, pouco antes do início do golpe de estado de Luís García Meza. Os protestos cresceram e terminaram com a queda do ditador.
Dois anos depois, a Bolívia voltaria a sofrer com um novo golpe, desta vez por Meza, enquanto Domitila viajava para Copenhague, na Dinamarca, em 1980, para participar da II Conferência Mundial da Mulher.
A líder operária ia com a missão de denunciar à imprensa internacional o golpe que estava iminente no país, a convite da maior central sindical da Bolívia, a Central Obrera Boliviana (COB).
Com o golpe em curso durante a viagem, Domitila se tornou porta-voz do povo boliviano para denunciar o sistema ditatorial e pedir solidariedade aos governos democráticos. Por esse feito, a boliviana foi impedida de retornar ao país de origem, se exilando na Suécia durante dois anos, com o marido e os filhos.
O legado dela é tão imenso que foi nomeada em 2005 ao prêmio Nobel da Paz, ao lado de outras mulheres.
Legado
Em 2012, Domitila faleceu de câncer de pulmão, doença que assola grande parte das trabalhadoras e trabalhadores em minas até hoje. Porém, o legado dessa heroína boliviana continua de pé, lembrada até hoje pela Bolívia pelos feitos assim como por movimentos sociais de todo o mundo. Como costumava dizer, “sem as mulheres, a revolução fica pela metade“.
Domitila Barros de Recife
A 5 mil km de distância, em Recife (PE), os pais de Domitila Barros de Oliveira Nascimento decidiram homenagear a operária boliviana.
A história da atual BBB começou no Morro da Conceição, situado na periferia do município, onde a família criou em 1983 o projeto Centro de Atendimento a Meninos e Meninas (CAMM) para ensinar crianças em situação de vulnerabilidade a ler e a escrever.
Formada em ciências sociais e políticas, além de saber falar sete idiomas diferentes, a Domitila brasileira tem uma marca de joias sustentáveis a base de capim dourado, que emprega mulheres da comunidade em que cresceu.
Envie para
um amigo
Seja um apoiador
Ao se tornar um apoiador, você passa a receber conteúdos exclusivos e participa de sorteios e promoções especiais para apoiadores.