Em um mundo com 8 bilhões de pessoas, o que nos torna únicos e especiais?
Nossas histórias, por mais parecidas e muitas vezes comum perto de outras pessoas do nosso círculo social, é uma jornada única e mesmo que não seja tão única e especial para nós, são uma fonte inesgotável de inspiração e motivação para milhares de outras pessoas.
Foi nessas histórias que a dupla Lucas Galdino e Alexandre Simone encontraram uma forma de expandir os horizontes da comunicação nas redes sociais, usando suas habilidades como jornalistas e com um propósito muito maior.
O formato e o objetivo da presença digital do Histórias de Ter.a.pia nas redes é claro: conhecer pessoas e ouvir suas histórias enquanto lavam a louça.
A partir dessa atividade simples e cotidiana, pessoas ‘comuns’ de diversas cidades do país, contam suas histórias e podem expressar suas vivências, pessoas que dificilmente são encontradas com um microfone contando quão incrível foram suas jornadas, e que muitas vezes elas nem acreditam no quão incrível suas memórias são até se ouvirem contando para a simpática dupla de comunicadores que assistem e escutam atentamente.
Verdadeiras inspirações da vida real nunca estiveram tão próximos a todos nós como estão agora, o canal no Youtube do Ter.a.pia conta com um acervo com mais de 200 mini documentários e juntos somam mais de 15 milhões de visualizações, além de perfis nas rede sociais como Facebook, Instagram e Tik Tok que ultrapassam os 3 milhões de seguidores, um podcast e muitas pessoas impactadas formando uma comunidade engajada e transformada por histórias reais, de pessoas reais.
Confira nossa entrevista com Lucas Galdino e Alexandre Simone, os criadores do Histórias de Ter.a.pia
CSP: Bom, eu queria muito entender um pouco sobre vocês, porque eu achei pouquíssimas informações sobre quem são vocês. O Lucas e o Alê de fato, e como a história de vocês se cruzam até chegar nesse ponto de decidirem levar essas outras histórias pro mundo. Como que a história de vocês se cruzam até surgir o Histórias de Terapia?
LUCAS: É, então vamos lá. A gente é meio misterioso, a gente tá tentando ser né? Brincadeira, a gente não consegue. Mas é o seguinte, eu e o Alê a gente se conhece em dois mil e dezessete, nós somos ex-namorados, A gente se conheceu, porque ambos são da área da comunicação, né?
Eu sou jornalista formado, trabalhava no Catraca Livre, o Alê é radialista, mas sempre trabalhou como social mídia em agência que faz as redes sociais pra grandes artistas, tipo Karol Conká, Milton Nascimento e tal.
Então ele trabalhou sempre com redes, eu também de certa forma, mais voltado pro jornalismo mesmo, e a gente se conhece porque ele trabalhava com artistas e eu fazia agenda cultural do Catraca Livre.
Enfim, começamos um relacionamento e dentro dessa relação nasce o Ter.a.pia que a gente costuma dizer que é nosso nosso filho mesmo, né?
Tanto é que a gente se separou, mas ele continua sendo nosso filho, a gente ainda cuida dele. É como se fosse um filho mesmo.
CSP: Uma guarda compartilhada, de fato.
Lucas: Os dois têm responsabilidade sobre esse filho, sabe? E aí o projeto nasce a partir do nosso relacionamento, porque era assim: quando um chegava do trabalho, chegava na casa, principalmente na minha casa onde eu morava na época, tinha um balcão na cozinha e tipo, aí sei lá, o Alê chegava do trabalho ou eu chegava e um estava ali lavando louça e outro encostava ali e começava a falar todo dia.
E aí a gente naturalmente, assim, sem pensar que isso viraria um projeto, mas aí a gente já estava um pouco de saco cheio de trabalhar e não colocar nossa criatividade toda em algum lugar, né? A gente, enfim, trabalhar pra uma empresa, você está sempre limitado aquelas suas funções ali ou que a empresa precisa e não de fato ao que você quer fazer.
E a gente falou, bom, vamos criar alguma coisa, a gente muito um canal no no YouTube, o canal da Sarah Oliveira, que é aquela ex VJ da MTV e ela tinha um canal dela onde ela tinha um programa lá dentro que era “ O nosso amor a gente inventa”, né Alê?
Alê: É isso mesmo?
Lucas: E aí ela entrevistava pessoas assim comuns, do dia a dia sobre histórias de amor, é tipo e podia ser real, uma história que deu certo ou uma história que nunca aconteceu, mas era uma história de amor ainda sim.
Eram histórias muito bonitas e a gente gostava muito de ver. A gente falou, ai, vamos fazer algo nessa pegada? Vamos entrevistar pessoas, vamos ir na casa das pessoas e tal, mas faltava um formato, porque a gente não queria colocar a pessoa sentadinha, falar, sabe? Entrevista meio de frente com Gabi. A gente queria uma coisa diferente, né?
Uma coisa que deixasse as pessoas também mais confortáveis. A gente tinha acabado de lavar louças juntos nesse dia, e foi aí que a gente teve a ideia e aí a gente olhou um pro outro e falou:
Pô, vamos pôr o pessoal pra lavar louça, vai ser, vai ser legal, vai ser divertido e o que começou como uma piada, depois a gente falou: isso aí faz muito sentido, né?
Alê: Aí que tem a brincadeira com o nome, né? De terapia e ter. a. pia.
E a gente ficou: ha ha que ideia idiota! Depois a gente foi pensando o quanto tinha tudo a ver porque ato de lavar, de limpeza e o quanto contar histórias também é uma coisa que de alguma forma limpa um pouco da sua alma e a relação com a água.
E uma coisa que todo mundo faz e a gente decidiu contar a história de pessoas totalmente comuns — ninguém é comum — Enfim, pessoas do dia a dia, pessoas não famosas, né?
Lucas: A gente costuma falar que são aquelas pessoas que você vai encontrar na fila da padaria, do mercado, no ponto de ônibus, são essas pessoas que a gente gosta de contar as histórias, né?
Alê: E ajudou muito porque às vezes a gente vai gravar e a pessoa dá uma travada, e pensa “Ai meu Deus” Ai a gente fala: lava a louça, vai lavando, vai lavando e vai falando e esquece que a gente tá aqui!
Não é uma entrevista, a gente tá lá pra conversar com as pessoas e a partir daquilo subir um vídeo.E aí deu certo, as pessoas curtiram também a ideia.
CSP: Onde vocês começaram a postar esses conteúdos? Foi no YouTube, foi no Facebook que ainda é uma rede muito grande?
Lucas: A gente começa a publicar em tudo que é canto que a gente podia, né? A gente criou um perfil em todas as redes, a gente já acompanhava alguns criadores, na época, e isso foi em 2018, né?
E também tinha uma uma necessidade nossa porque a gente estava falando muito sobre diálogo por conta do período político, né?
A gente fala, ah, vamos ter temos que conversar com as pessoas, não sei o que. A gente falou, tá, mas como a gente faz isso? E aí, a gente une tudo isso que a gente falou, mais essa necessidade política mesmo eh e aí nasce o Ter.a.pia.
E aí a gente começa a publicar em tudo que é canto , só que diferente de muita gente que pegava o link do YouTube e jogava no Facebook e falava ai vai lá assistir.
A gente falou, não, vamos jogar os vídeos completos no YouTube, completo no Facebook aí a gente colocou, sempre coloca teasers no Instagram, né? Porque enfim, no Instagram eu acho que é o consumo até mais rápido, né? Assim, as pessoas não costumam ver vídeos tão longos lá. Nossos vídeos tem entre oito e doze minutos mais ou menos.
Aí a gente eh decidiu publicar em todas as redes, mas nossa plataforma principal é o Facebook ainda hoje a gente tem cerca de dois milhões e trezentos mil seguidores lá, é uma comunidade muito engajada, muito engajada mesmo! Tanto que a própria meta já considerou a gente como um case de sucesso por dois anos consecutivos.
CSP: Todos os conteúdos produzidos pelo Ter.a.pia estão disponíveis de forma gratuita na internet?
Lucas: Sim, tudo na web, a gente usa muito os arquivos antigos, estamos sempre aproveitando, por exemplo: Você chegou ontem e conheceu a história da Maite, a história dela é recente, mas já tem outros 200 vídeos para você assistir.
Também temos o podcast que já tem cerca de 100 episódios, que são diferentes dos vídeos. Em nosso canal do youtube sai vídeos novos toda semana e as outras redes que são mais dinâmicas a gente tá sempre aproveitando os vídeos antigos, resgatando essas histórias.
CSP: Qual o local mais distante que vocês foram gravar e conversar com as pessoas?
Lucas: Em vídeo, acho que foi Salvador. Nós fomos lá e gravamos, acho que quatro histórias. Esse ano (2022), a gente tem feito com mais frequência, já fomos para Minas, Salvador e Rio.
Alê: Uma coisa bem legal é que quando fomos em Belo Horizonte, a gente conseguiu gravar em algumas cidades bem pequenas e é legal sair das grandes cidades.
CSP: Como surgiu o Podcast “Histórias para ouvir lavando a louça”?
Lucas: Na verdade o Podcast surgiu para suprir uma questão logística que ainda é complicada de resolver. O podcast tem um ano e meio e a gente recebeu três mil histórias.
CSP: Vocês lidam todos os dias com diversas histórias que muitas vezes são “pesadas”. Como vocês cuidam da saúde mental de vocês?
Lucas: Terapia em dia, né?
Alê: Eu acho que essas histórias nos ajudam bastante, acho que esse envolvimento que nós temos com as pessoas muito nos ajuda no dia a dia, é como se nos ajudasse a dar uma sementinha de esperança. Teve muitas vezes que a gente foi gravar e eu estava mal, triste e depois de gravar eu saí e ufa! Porque as histórias, eu acho que nos mostra que existe um caminho de esperança para viver.
Lucas: Nos ajuda a pensar em coisas que eu não pensaria, eu acho.
Alê: E é um privilégio para nós estar ali, pessoalmente, o vídeo tem entre 10 e 12 minutos, mas de bate papo, às vezes é uma hora de conversa.
CSP: Algumas histórias parecem ser a primeira vez que a pessoa vai contar e as lágrimas descem. Como é essa emoção presencialmente?
Alê: Eu acho que a gente não para e pensa em tudo de uma vez, a gente só vai vivendo e vai acumulando as dores, as felicidades e naquela hora é como uma viagem, porque elas tem que contextualizar tudo para a gente, nós não sabemos nada delas.
Lucas: A Silvana, nos contou a história dela no começo de 2020, e ela dizia: “a minha história é só mais uma história”. A história dela viralizou e quando ela assistiu ela disse: “É uma história”.
Alê: Todos acham que sua história não tem potencial para virar um vídeo, mas todas têm!
CSP: Vocês tem pretensão de levar o projeto para uma âmbito físico?
Alê: É um sonho!
Lucas: Acho que a gente tá começando aos pouquinhos, sabe? Primeiro a gente saiu da internet indo para o streaming com um programa na TasteMade TV, agora em Janeiro, a gente lança nosso livro que saí completamente do digital.
É um grande sonho meu e do Alê, levar para o off-line porque a gente já provou que as pessoas estão dispostas a ouvir, estão dispostas a conversar e isso não é só na internet, se isso acontece na internet elas estão dispostas a fazer no off line também.
CSP: O livro já está em fase de finalização?
Lucas e Alê: Essa semana vai para a gráfica e em janeiro já está em pré-venda.
CSP: Uma história que tenha marcado profundamente vocês?
Alê: No dia que a gente gravou com a Maite, um dos trechos que mais viralizou no vídeo é onde ela conta que escrevia cartas para a avó e sempre colocava o nome: “beijos do seu neto Alexandre” e a avó nunca a chamava pelo seu nome e quando ela encontrou as cartas sua avó tinha riscado os nomes e escrito: Maite.
Lucas: Tem uma história que me marcou muito, foi a história do Alisson, ele cuida da mãe que está acamada, teve alguns AVCs e a gente foi gravar no interior de São Paulo, ele tímido, tremendo de nervoso. Gravamos, a história caiu no Razões Para Acreditar e teve uma “vaquinha” onde ele conseguiu abrir a padaria dele. Quando ele inaugurou, nos mandou uma foto com o pano de prato do Terapia emoldurado.
Alê: Ele foi super corajoso, depois surgiu várias histórias de filhos que cuidam da mãe e conheceram o canal por conta da história do Alisson. Esse ato de coragem dele é o que mais me emociona.
CSP: Como é o relacionamento de vocês com a comunidade que acompanha o Ter.a.pia na redes sociais?
Lucas: O Ter.a.pia é todo retroalimentado pela nossa comunidade, quem manda as histórias é quem assiste, quem assiste é quem comenta e muitas vezes eles contam suas histórias nos comentários. A gente tem um contato muito próximo, até porque o Ter.a.pia só existe porque essas pessoas existem e mandam essas histórias para ele. Então as pessoas ficam próximas e nós ficamos próximas a elas.
Alê: E quando a gente não consegue responder, a própria comunidade vai e se respondendo, isso vira uma troca linda!
Confira a entrevista também no Youtube:
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Agradecimentos: Ana Sama, UB. Matta e Agência Brunch.
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