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Entrevista: Milena Macena

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Entrevista: Milena Macena

Outro dia, vendo um vídeo com Leandro Karnal, ouvi uma coisa que me chamou a atenção, “A religião é um signo aberto”. De acordo com Karnal, a tentativa de explicar o bem e o mal é o que determina esse conceito.  

Em tempos de medos e angústias, por exemplo, a procura por religião e espiritualidade vem aumentando. Para o filósofo tunisiano Youssef Seddik, este momento marcará um retorno à espiritualidade. De diversas formas esta tentativa de conexão vem sendo feita: a bíblia, livros religiosos, cultos religiosos virtuais e meditação têm sido pautados entre grupos de amigos.

Para entender um pouco dessa inquietação para conectar-se com a fé e, até mesmo com seu eu interior, convidamos Milena Macena, responsável pelo perfil no Instagram A Busca da Luz e autora do livro A Busca, trabalho resultante de suas inquietações e feedbacks sobre seu canal virtual.

Cansei de Ser Pop: O que originou o livro A Busca?

Milena Macena: Sempre gostei de escrever, já tive um blog e depois acabei deixando de lado, escrevendo cada vez menos. Muitas vezes as pressões sociais acabam nos distanciando do que realmente gostamos e nos limitamos a viver no automatismo, passamos a viver cumprindo prazos e procrastinando atividades essenciais para nosso bem estar, como a escrita era/é para mim.

Quando terminei  a graduação e comecei a trabalhar só pensava em publicar meus primeiros escritos, mas na época acabei desistindo do blog e adiando o livro. O trabalho me abriu os olhos para tantas questões que preferi me preservar e não escrever, e assim não me expor naquele momento.

Com o passar do tempo, recordei que na adolescência eu tinha uma agenda que ilustrava as frases e poemas que mais gostava e o quanto aquilo me fazia bem, pensei em começar a editar aquelas frases e citações, juntar com comentários pessoais (que inicialmente apenas assinava como “a busca da luz”) e criar uma página. 

Dessa forma que me ajudava, talvez alguém também se identificasse. E, para a minha surpresa e alegria, muitas pessoas se identificaram e a página cresceu bastante em pouco tempo, então o antigo sonho voltou e pensei em publicar meus textos e divulgar na página.

CSP: O que você encontrou no caminho dessa busca?

Milena Macena: Eu mesma.  E venho me encontrando cada vez mais. Algumas situações exigem explicações e acabamos procurando respostas o tempo inteiro. Nessas buscas me deparei com muitas contradições, percebi que as pessoas (por mais boas intenções que tivessem) não podiam resolver o meu problema e estavam tão perdidas quanto eu. 

Assim, muitas desconstruções foram feitas, aprendi a confiar mais em mim, me conhecer, descobri a minha força e a capacidade e responsabilidade de encontrar a resolução de minhas próprias questões.

CSP: Como você nutre a sua espiritualidade?

Milena Macena: A princípio eu era bastante resistente a frequentar qualquer manifestação religiosa. Sempre acreditei que basta ter boas ações, pensar no bem e respeitar as diferenças era o suficiente. Mas a vida acaba levando a gente para outro caminho, e necessitei bastante compreender certas sensações que começaram a aflorar, certas dores sem motivo, certas “doenças” inexplicáveis. Mesmo diante de toda essa vivência eu não procurei nada e fiquei nesse desespero sem saber o que estava acontecendo. 

Então, algumas pessoas começaram a aparecer (no estágio, no cursinho) sinalizando para eu buscar um auxílio espiritual. Não compreendia o motivo, e para ser sincera, não levava muito a sério, mas acabei (numa dessas “coincidências” da vida) parando em um centro espírita e então passei a entender muito mais sobre mim.

Eu ainda acredito que não é necessário frequentar uma religião, mas eu tive essa necessidade urgente de entender o que ocorria comigo, e o espiritismo me trouxe esse entendimento. Hoje em dia eu frequento centro espírita porque gosto e porque ainda sinto necessidade, mas não me considero pertencente a algo, gosto da visão universalista e nutro minha espiritualidade de várias formas: quando estou em silêncio no meu quarto tentando meditar, quando estou na natureza e principalmente quando respeito quem pensa diferente de mim (tudo é espiritualidade).

CSP: Você tem um perfil no Instagram que se chama A Busca da Luz, provavelmente, muito feedbacks sobre o perfil serviram de inspiração para a construção de seu livro. O que você pode nos contar sobre? Tem histórias que possam ser compartilhadas?

Milena Macena: Sim, a página foi a grande impulsionadora de uma grande mudança em minha vida! Através dela vi utilidade nas mensagens que compartilhava e percebi o quanto temos que ter responsabilidade com o que postamos. Muitas pessoas procuravam bastante no direct para desabafar e um delas disse: “Você é a última pessoa que irei falar! Quero me matar!”. Primeiramente fiquei bastante preocupada e tensa com a situação. Conversei com a pessoa com o maior cuidado (afinal uma vida em risco), falei da importância de procurar ajuda profissional, fazer terapia e que aquele momento de desespero, passaria, etc. 

Conversamos e ela se acalmou. No dia seguinte enviei mensagem para saber como estava (confesso que muito preocupada em não obter resposta), mas graças a Deus ficou tudo bem e passou. Ela disse que resolveu procurar ajuda profissional.

Eram muitas as mensagens que recebia com a mesma temática e percebi o quanto as pessoas precisam de esperança e motivação, e o quanto uma “simples palavra” pode salvar a vida de alguém. Nesse sentido, tento trazer meus escritos voltados para todas as pessoas que buscam o autoconhecimento (assim como eu) e já tiveram ou ainda tem suas cicatrizes.

CSP: Você se sente responsável por trazer palavras de esperança e reflexões para a vida das pessoas? 

Milena Macena: Na verdade essa é a minha tentativa e o que move meus escritos.

CSP: Seu primeiro perfil no Instagram, com seus mais de 150 mil seguidores, foi hackeado e, infelizmente, você não conseguiu reconstruir a página. Como foi esta reconstrução? 

Milena Macena: Olha eu não fazia ideia do quanto isso repercutiria! Estava às vésperas de lançar meu livro, a página estava no ápice e entrava 1.500 pessoas por dia. Tinha muita interação e de repente fui hackeada e perdi tudo! Como me hackearam através do email não tive acesso ao retorno do instagram, pois o hacker controlava tudo o que recebia e não tive a página de volta. 

Então, não pensei duas vezes e reconstruí, mas no dia-a-dia que me dei conta de quanta coisa havia se perdido: resumos de livros e filmes nos destaques dos stories (que não havia salvado), alguns textos publicados.

Houve um mal entendido e muitos me bloquearam achando q eu que era o hacker (risos). Mas também muitas pessoas e algumas páginas me ajudaram a divulgar o que aconteceu. Assim vamos nos adequando e descobrindo um novo público, um novo ritmo.

CPS: Para finalizar, estamos atravessando um período conturbado e muitas pessoas estão se conectando/reconectando à fé. Quais dicas que você dá para quem está nesta busca?

Milena Macena: Não imaginaríamos passar por uma pandemia nessas proporções, enfrentar tantos problemas sociais e políticos (tudo junto). Para a nossa própria sobrevivência é necessário percebermos qual perspectiva que estamos enxergando e tirar algo de bom em tudo isso. 

Embora seja um período extremamente conturbado, muitas coisas estão vindo à tona para transformarmos de forma mais urgente! Sabemos das desigualdade sociais e de todas as mazelas, mas quando iniciou essa pandemia tudo ficou muito evidente e não tem como a voltar a ser como antes, ficou ainda mais inadiável a necessidade de reforma em diversos setores que a pandemia (infelizmente por meio dela) nos evidenciou de forma tão incisiva.

Esse momento é delicado e precisamos nos unir, apoiarmos uns aos outros, buscarmos nossos direitos e evitar dualidades. Constatar que tudo isso é passageiro e pode ocasionar numa grande reforma societária, depende de cada um de nós nos mantermos conectados com o respeito e luta pela garantia de todos os direitos (e não lutar uns contra os outros).

Mesmo que a gente não perceba agora, devido ao sofrimento e todos os ânimos exaltados, futuramente entenderemos as motivações de tudo isso que o planeta está passando, toda essa “transição”.

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